Referências ao nome do pai em registros italianos (civis ou paroquiais)

Com alguma frequência vejo em alguns registros de árvores genealógicas nomes anotados desta forma: “Luigi di Giuseppe Martini” ou “Luigi Martini di Giuseppe”.

Isso acontece devido a um erro de interpretação bastante simples e, sobretudo, porque a tendência contemporânea (da década de 1960 em diante) é estabelecer uma rigidez absoluta na anotação dos nomes. Trata-se de imaginar que os nomes são imutáveis e vale sempre o que está exatamente escrito num registro. Essa “intransigência onomástica” é muito contraproducente e nos faz cometer muitos erros, como é este que eu trato neste artigo.

Quando num registro italiano, seja civil ou paroquial, um nome aparece anotado como “Luigi di Giuseppe Martini” ou “Luigi Martini di Giuseppe” está se indicando que a pessoa chama-se “Luigi Martini” e seu pai chama-se “Giuseppe Martini” e que este pai estava vivo no momento em que aquele registro foi lavrado. Se o pai já fosse falecido naquela ocasião, o nome estaria anotado da seguinte maneira: “Luigi fu Giuseppe Martini” ou “Luigi Martini fu Giuseppe”.

Resumindo: o elemento “di Giuseppe” ou “fu Giuseppe” não é parte do nome, mas apenas uma referência ao nome do pai.

Pode ficar ainda mais confuso se o sobrenome da família for um patronímico analítico, ou seja, formado com a preposição “Di” (ou “De”), tal como “Luigi Di Martino”. Nesse caso, o nome poderia aparecer como “Luigi di Giuseppe Di Martino” ou “Luigi Di Martino di Giuseppe”. Infelizmente, nem sempre o uso de maiúsculas era feito de maneira regular, assim, como interpretar “Luigi di Giuseppe di Martino” ou “Luigi di Martino di Giuseppe”? A resposta estará sempre no contexto e no estudo abrangente daquela família, sendo quase sempre possível saber qual era o sobrenome da família e qual era o nome do pai da pessoa em questão.

Quando fazemos genealogia temos de sepultar a ideia de que nomes são imutáveis, porque é uma concepção anacrônica.

Ao fazer estudos genealógicos sérios verificamos que antes da metade do século XX os nomes eram fluidos, ou seja, modificavam-se no tempo e no espaço de acordo com várias circunstâncias. A grande maioria dos nomes, sejam prenomes ou sobrenomes, possuem variações que se alternavam e que se suplantavam. Alguns exemplos: até o fim do século XIX era comum ver registros de nomes grafados como “Salvadore”, “Michiele”, “Catterina” ou “Angiola”. Estas formas caíram em desuso na virada do século em detrimento de “Salvatore”, “Michele”, “Caterina” e “Angela”. E mesmo no passado se alternavam, ora “Salvadore Spataro”, ora “Salvatore Spadaro”… Note que até o sobrenome pode ter duas variantes concorrentes e isso acontece com quase todos os sobrenomes. Isso é assunto para ser aprofundado noutro artigo.

Aliás, outro tema para artigo são os nomes que se modificam quando escritos em línguas que têm casos gramaticais, como o latim ou o grego. É muito comum ver árvores genealógicas usando incorretamente nomes em latim no caso genitivo, quando deveriam ter sido anotados no caso nominativo: Hyacinthi Marone em vez Hyacinthus Marone. Isso ocorre quando o nome do pai é “descoberto” no registro de um filho e, portanto, aparece no caso genitivo. Todavia, a anotação principal do nome deve ser feita em italiano: Giacinto Marone. O fato de um registro religioso trazer os nomes em latim não significa que em 1590 ou 1750 as pessoas se referiam pelo nomes em latim, pois esta já não era língua veicular na Itália há muitos e muitos séculos. O latim era usado apenas como língua eclesiástica e em alguns casos, científica ou administrativa. Não faz sentido anotar no nome principal que seu sétimo avô chamava-se Iohannes ou Carolus, quando na realidade em nasceu e viveu Giovanni  ou Carlo. Os nomes em latim devem ser anotados em “Outros nomes”, seja na árvore familiar do FamilySearch, seja no programa offline no seu computador, seja num relatório impresso.


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